Page 122 - JOÃO (Entrevistado por Douglas Machado)
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Uma última pergunta: quando a gente chega aos 50 anos, começamos a observar, com
                               maior atenção, as histórias que passaram em nossas vidas. Olhamos para trás, por assim
                               dizer. Até colocando para si mesmo se ainda teremos muito tempo adiante. A gente vai
                               começando a revisar as coisas com mais frequência e a pensar na morte como algo que

                               se avizinha. Pergunto: o senhor tem medo da morte?
                               Da morte?... É uma pergunta muito interessante. A gente vê que a morte não é uma coisa

                               boa quando a gente, em determinada hora, faz as suas aclamações, os seus pedidos,
                               cada um dentro de sua religião. Por exemplo, pedindo..., recorrendo a Deus para que
                               dê o Céu para sua alma. Vai pedindo a Deus para ir para o Céu, mas aí se disser: “- É

                               agora!”. “- Não, não é agora!”. Eu estou querendo ir para o Céu, mas não é agora. Então,
                               ele está sabendo que é bom o Céu, mas está pedindo e não está querendo ir. Pedindo
                               também para prorrogar essa dádiva, não é? Ele está pedindo para ir, mas se chegar a
                               morte e disser: “- Estou aqui para...”, “- Ah, mas não é agora que eu quero ir”. Então, essa
                               morte, essa coragem, ou se tem medo da morte, é muito indefinido. A gente não sabe se

                               tem ou não tem. Dizer que não tem, aí pergunto: então, você gostaria de morrer hoje?
                               “- Não, não gostaria não!”. Aí, mas... (SORRINDO) mas, se a pessoa não tem medo,
                               então, como é que a morte chega e você não quer ir, hein? É muito difícil. É muito

                               indefinido. A gente tem que conviver. Saber que a morte é uma coisa certa, entendeu?
                               Todos nós devemos nos preparar para a morte. Preparar para a vida e para a morte.
                               Dentro da sua vida deve ser uma preparação também para sua morte. Você se prepara
                               para morte não é só quando está doente, não! É quando está bom também. As suas
                               ações, a sua vida, o seu bem-fazer, o seu malfazer: tudo é preparação ou não preparação

                               para a morte. Então, você se prepara para morte, sim. Eu sempre penso em não fazer
                               nada mal para uma pessoa. E reflito até: “Será que isso... estou fazendo mal? Aquilo que
                               eu não quero para mim eu vou querer para o outro?” Então, isso aí é uma preparação

                               para a morte. Agora, o dia mesmo da morte – com medo ou sem medo – aí quem sabe
                               não somos nós. Eu acho que não se preocupar é melhor. É o meu pensamento. Faça por
                               onde estar preparado, mas não queira ir não! Não queira ir agora.
















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