Page 129 - JOÃO (Entrevistado por Douglas Machado)
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in memoriam
Minha primeira memória do Seu João eu ainda era menino, numa visita ao Armazém Paraíba.
Eu estava acompanhado do meu pai, quando ele me disse: “Aquele é o Sr. João Claudino, dono
do Paraíba”. Chamou-me a atenção o fato de ele estar arrumando as prateleiras da loja, com
simplicidade, sem ostentação. Isso diz muito de um homem. Muito. Outra vez, eu já adulto
e dirigindo um filme sobre ele (olha como o mundo tem suas voltas!), acompanhei o Seu
João servindo o almoço e o jantar para nossa equipe de filmagem - quando terminávamos as
gravações. Repito: isso diz muito da inteireza de um homem.
Eu poderia citar aqui outros exemplos. Muitos exemplos. Todos nós temos um Seu João que
nos pertence, uma memória particular, indivisível. Ele tinha essa habilidade de criar universos
múltiplos e reservados. Por esse motivo, todos nós sentimos a sua falta de maneira coletiva
e privada ao mesmo tempo. Talvez a dor da saudade, tão somente, seja verdadeiramente
o único sentimento em comunhão. A dor da perda é de todos. E dor não se mede, não se
esgota, simplesmente existe. Uma saudade imensa que temos que transformar, a cada dia, na
continuidade dos sonhos deste homem: João Claudino Fernandes. Que ele esteja conosco na
memória e nos atos - e que sustentemos a dignidade de chamá-lo Nosso João.
Douglas Machado
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