Page 37 - JOÃO (Entrevistado por Douglas Machado)
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Na época, este local da Guanabara do Sertão era o ponto onde os caixeiros viajantes
atrelavam os seus cavalos. O senhor poderia falar sobre isso?
Naquela época, era um local estratégico, era uma das grandes entradas de Cajazeiras.
Não existia automóvel, motocicleta e mesmo a bicicleta era muito pouca. Todo o
transporte era animal, e ali era um local muito bom, já quase dentro da cidade. E
eu tinha, por trás da bodeguinha, um local muito amplo para acolher, receber, esses
animais. Naquela época, existia a feira da cidade, era um dia de grande concentração.
Hoje ainda existe esse nome de feira e tal, mas não é como era naquele tempo. Lá
era concentrado em um só dia o movimento da cidade. Hoje não, o modernismo, as
estradas, a facilidade de ir e voltar à cidade, fez com que acabasse o dia principal da
feira. O homem vivia da atividade do campo, trabalhava a semana toda e tirava um
sábado para fazer suas compras e concluir seus negócios na cidade. Tornava-se um dia
bem movimentado na cidade, era o dia da feira, que lá em Cajazeiras era no sábado.
E foi na Guanabara do Sertão que o senhor também conheceu o Chagas Moisés.
Ah, sim... o Chagas Moisés. É interessante, numa mercearia, num ambiente daquele, a
gente recebe pessoas de todas as atividades, de toda natureza, conversas as mais diversas
possíveis e até mesmo poetas, violeiros, todos que chegam ali. Era um local provocante
para o artista, porque dificilmente tem um artista que não goste de tomar alguma coisa.
Parece que faz parte, mesmo, da arte. Dá mais inspiração e tal, eu não sei. Mas o certo
é que naquele dia a dia chega um dos repentistas, fazendo suas poesias, suas rimas, e
aquilo tornou-se uma atração. Aquela pessoa, aquela figura simples, tomando a sua
pinga e fazendo as suas poesias, não é? E naquela hora, a gente passa a se apaixonar
mesmo, porque a poesia é uma coisa muito bonita. Me apaixonei pela poesia, pela
literatura de cordel, gosto muito de ouvir, admiro quem faz, porque, na realidade,
raciocinando bem, é muito interessante e muito bonito.
Sobretudo por conta da inspiração do repente, não é?
É... a inspiração!
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