Page 104 - JOÃO (Entrevistado por Douglas Machado)
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Ele ia trabalhar cedo, assim como o senhor...?
Cedinho! Ele acordava às 4h30 para nos chamar para começar os trabalhos. A luta do
leite, do gado, a ração para o gado, a venda do leite etc. E 7h era para todos estarem na
escola. Todos na escola! Às 11h todos voltavam da escola e começava uma nova batalha.
Ele chegava sempre em hora certa. Saia às 7h, voltava às 11h; voltava a sair 1h da tarde,
volta para casa às 5h. Mas, quando chegava em casa, tinha uma tarefa para resolver.
Sempre tinha alguma coisa para fazer...
Não parava. Não parava de jeito nenhum. Era uma telha da casa que estivesse mal
colocada, e estava chovendo e ele mesmo ia fazer, era botar uma meia-sola no sapato
e ele tinha o equipamento para fazer. Arreios para os animais, que ele era um homem
ligado ao homem do campo. Então, dos arreios dos animais ele cuidava, c onsertava
tudo... não parava. Não parava! Então, foi uma casa de trabalho e de trabalho. E isso foi
um exemplo muito grande. Eu até poderia dizer: “eu não tive juventude”, entendeu? Fui
criança, passei a fase de criança. A juventude foi muito pouca.
E mesmo criança o senhor já trabalhava, não era mesmo?
Tudo criança lá em casa, e já trabalhava. Oito anos, e já era para estar trabalhando.
Tinha o que fazer. Então, a vida foi assim. Voltando para Dona Regina, quando eu falei
da emoção que eu senti exatamente quando chegava ali naquela janela. E depois foi
quando eu fui lá em casa. Nós fomos para a casa onde nós vivemos, e aquele curral,
aquela quinta: tudo muito bonito. Aquilo foi uma recordação muito grande também.
Então, quando a gente fala em voltar ao passado, e rever o passado, tem muita coisa que
toca na vida da gente. Não são nem só os atos praticados pela gente, mais ainda talvez
seja o que foi praticado por outras pessoas com a gente, não é?
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