Page 29 - JOÃO (Entrevistado por Douglas Machado)
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O senhor está falando do seu irmão, Sr. Valdecy, não é isso?
Sim, Valdecy. Bom comerciante. Ele se ligava muito, principalmente, na parte financeira,
que é o ponto de partida para a organização de uma empresa, não é? Ele sempre se
dedicou com muita competência. Valdecy deixou o Seminário, talvez pela vocação
mais forte do comércio... Não sei se o comércio influiu na falta de vocação dele no
sacerdócio, mas eu acredito que não. Era uma fase de experiência, era uma fase de
formação mesmo, de decidir o que a pessoa deseja e pensa na vida. E ele pensou que
deveria deixar o Seminário e abraçar a luta de corpo e alma.
Ele era muito novo, não é?
Novo! Dezoito anos. Ia completar 18 anos ou completou. Deixou o Seminário e se
dedicou ao trabalho até hoje. Ainda não se entregou e nem deve se entregar. Até porque
o trabalho, quando a pessoa faz gostando, é uma terapia. Acho que ele ainda não está
cansado. E assim foi o começo. O começo de uma história que estamos contando hoje,
não é?
Mas, nessa época, o senhor era também muito jovem. O comércio já lhe chamava
atenção?
Não, não me chamava atenção. Valdecy era quem me chamava atenção. Eu era um
menino inquieto, acredito que dei trabalho, mas ele soube coordenar meu ímpeto de
excesso de atividade em determinadas áreas para centralizar em outra área, que seria o
trabalho. Isso ele soube fazer com muita competência. É tanto que ele se tornou o líder
da família. Líder pela competência, pela sua capacidade. Não foi nem imposição, veio
naturalmente. Eu era diferente dele. Ele nunca foi menino, e acho que, talvez, nem rapaz,
sempre foi homem, diferente de mim. Mas, mesmo assim com a minha inquietude,
minha forma de ser, meu pai resolveu me colocar para trabalhar. Um comerciante havia
encerrado as suas atividades, estavam lá as prateleiras, muito simples, no interior de
um bairro da cidade. E ele comprou essas prateleiras, alugou um local e me colocou
para trabalhar. Comprou qualquer coisa para o início, mercadoria inicial. Um pequeno
negócio: uma saca de açúcar, uma saca de feijão, uma saca de farinha, uma saca de
arroz, meia saca de café – naquele tempo, o café era torrado – e duas caixas de bebida e
entregou para testar o menino impetuoso.
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