Page 97 - JOÃO (Entrevistado por Douglas Machado)
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Tirava o leite também para vender...
Para mim, eu estava revendo a minha mãe coordenando tudo aquilo, está entendendo?
Porque aquele leite foi muito útil para a família. Não só para o alimento da família,
mas também era transformado em dinheiro para ajudar. Era uma fonte de renda da
família. Aquilo ali pesava nas finanças da casa. E mamãe era a pessoa que fazia tudo
aquilo. Além de coordenar 16 filhos, de tudo e em tudo. Mamãe estava presente em
tudo. Se era o acordar, o despertar: era ela quem fazia. Se era para o café da manhã:
era ela quem fazia. Se era para verificar a roupa e o calçado daqueles que saíam para a
escola, verificando se não existia alguma anormalidade na roupa, alguma sujeirinha...
Então, era ela quem verificava e acompanhava os mínimos detalhes. Então, depois que
saíamos para a escola, ficava ainda o pensamento, se chegou na escola, se estava tudo
bem, e ainda mandava a merenda.
Mas ela fazia isso com rigidez ou com doçura?
Doçura. Estava pronta para tudo. Todo mundo, o respeito era muito grande. Até porque
ela fazia com doçura mesmo e sempre dizendo que queria todos os filhos formados
e estudando. E ela se dedicava tanto quanto um filho ou mais. Bem, aí, ia cuidar no
almoço, ia cuidar de outros afazeres. Ela com 16 filhos e o casal, 18, lá em casa nunca
teve empregada. Ela dizia que não era possível precisar de empregada, gente de fora
em casa, se tinha dez mulheres lá. Onze com ela. Então, ela mostrava e provava que
não precisava. Isso era o que eu estava falando, citando exatamente os exemplos da
grandeza. Coisas que a gente indo de volta ao passado, parece que a gente encontra
coisas melhores nas outras pessoas do que na gente.
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