Page 53 - JOÃO (Entrevistado por Douglas Machado)
P. 53

produção de alimento, existia o produto mais rico, que era o algodão, e ainda tinha a

                                                          criação do gado. Então, em 1958, veio a seca – que é a sua pergunta – e vendo aquela
                                                          seca, pensamos logo em procurar uma frente de trabalho para nós como comerciantes,
                                                          sabendo que o comércio ia cair. Nós começamos a pensar nas regiões onde não havia a
                                                          seca e nós soubemos que o Maranhão era muito bom, muito fértil. A gente não conhecia

                                                          o Maranhão, nem a Paraíba sabia o que era o Maranhão, nem o Maranhão sabia o
                                                          que era a Paraíba. Não existia estrada, entendeu? Aí eu vim conhecer, cheguei logo na
                                                          primeira cidade, Bacabal-MA, e vi que estava aberto o mercado. Não demorei e aluguei
                                                          um prédio, um pedaço lá, e voltei muito animado. Dentro de poucos dias nós abrimos

                                                          a loja. Até pensando que íamos ficar somente no período da seca, essa estiagem e tal,
                                                          mas a coisa foi fluindo, negócios dando certo. Aí começamos a abrir filiais e até hoje.



                                                          Era um período muito diferente, não é, Seu João? Vocês abriram a loja em poucos dias.
                                                          Quero dizer, chegaram a Bacabal e, em poucos dias, já abriram a loja...
                                                          Era uma atração, algo diferenciado no comércio, não é? Existia uma diferença:
                                                          a atividade da pessoa, o entusiasmo. Às vezes, o comerciante de lá era comerciante
                                                          acomodado, sem entusiasmo, não tinha atrativo, está entendendo? Ele atendia o cliente

                                                          porque tinha que atender, mas nem gostaria de atender. Nosso caso era inverso, nós
                                                          atendíamos gostando de atender.



                                                          Isso faz todo o diferencial.
                                                          Faz todo o diferencial. Com aquele entusiasmo, trazendo novidade, trazendo coisas
                                                          novas e foi o que aconteceu e deu certo.



                                                          E vocês surpreendiam a clientela. Por exemplo, teve alguém interessado em comprar
                                                          um carro e vocês encontraram uma maneira de também vender carro na loja, não é
                                                          mesmo?
                                                          Na realidade, ninguém sabia a dimensão, o tamanho da firma – que não era grande.
                                                          Agora, grande era a vontade de vencer! Aí qualquer pessoa chegava e perguntava:

                                                          “você tem a mercadoria tal?” A gente já conhecia quem tinha na Paraíba e respondia:
                                                          “Temos, vai chegar tal dia aqui” e já ia vendendo. “Tem bateria para carro?”. “Temos!









                                                                                                        JOÃO ENTREVISTADO POR DOUGLAS MACHADO                  53
   48   49   50   51   52   53   54   55   56   57   58